sexta-feira, 8 de outubro de 2010

O óbvio...

Seguimos reclamando do óbvio: uma hora de trânsito!
Claro, mas queria o quê? Mora em uma cidade caótica como São Paulo, mora em um bairro e trabalha em outro...
Joga um papel de bala no chão (ah, tão pequeno, não tem lixo, não tenho bolsa), mas reclama das enchentes depois de uma chuvinha de nada.
Ah, seguimos reclamando do barulho. Mas atendemos ao telefone no elevador e todos ficam sabendo que o encanador não foi.
E reclamamos do encanador.
Se está sol, o calor é de matar.
Se está chovendo, é um problema caminhar, tropeçar nas calçadas esburacadas, sujas, com poças d´água.
E como chamamos o santo nome em vão!
Meu Deus, Minha Nossa Senhora, Jesus Maria José.
Minha Santa Madalena.
Nossa Senhora da Bicicletinha.
Seguimos reclamando do óbvio: uma fila no supermercado! Uma caixa lerda!
Enquanto espremo as mãos de ansiedade com o tempo a caixa comenta com a cliente da frente que queria ser cantora.
É o que basta para me distrair da minha pressa.
Ela não estava reclamando. Era apenas um lamento suave de algo que poderia ter sido e não foi.
Quero ouvi-la cantar, mas não ouso pedir.
Ela se despede da cliente, olha para mim sorridente e não tenta fazer nada ligeiro.
Ela queria apenas ser cantora, mas passa meus produtos por aquela maquininha que engole os números, ajeita sacolas, papéis e o cabelo que escapa do coque.
Seguimos reclamando do óbvio porque nos concentramos no excesso.
Pudesse agora trocar o sapato pela relva fresca molhada de chuva e olhar para o céu apenas para desenhar uma nuvem tudo seria diferente.
E não é apenas porque não tenho coragem de parar de reclamar do óbvio!
Às vezes me canso de correr atrás de mim.

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