Quando o sol entra de mansinho pela janela, deixando tudo amarelo, eu me lembro.
E quando vai escurecendo, o coração vai ficando apertado porque eu me lembro.
Dos primeiros passos. Das primeiras pegadas que foram ficando.
Da confiança que foi nascendo.
Como criança que se sente pronta para pedalar sem rodinhas.
A mesa comprida, cheia de cadeiras presunçosas enquanto vazias e depois humilhadas, pesadas, ocupadas, arrastadas em reuniões sem fim.
A parede azul.
O silêncio protegido pelos vidros grossos da janela anti-ruído.
Esperava com o coração na mão.
E enquanto esperava escrevi um poema a meu pai, que poderia tê-lo lido se eu tivesse mostrado, coisa que já não é mais possível.
A conversa tímida.
O sotaque do outro que tardei a identificar.
O olho ávido pelo sim, mas as mãos sempre se despedem com uma promessa.
Nada planejado, mas tudo iniciado.
Uma indicação.
Uma paixão.
Uma vontade de fazer.
Se eu fosse mais displicente me entregaria menos, sofreria menos, cresceria mais.
Não teria saudades, não me lembraria quando o sol entra de mansinho pela janela, deixando tudo amarelo.
O barulho do ar condicionado ocupando as paredes brancas.
As plantas são de verdade.
A verdade é que somos o que vamos escrevendo ao longo da vida, não importa em que papel.
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