Armanda tinha os dedos curtinhos e grossos, não gostava, e apesar de não pretender ser pianista nem dublê de mãos em fotos publicitárias, não convivia bem com eles.
Berenice sofria com os cachos do cabelo. Quando pequena, pensava que ao crescer o cabelo alisaria e depois de crescida, uma bolsa, um sapato, sempre perderam para cremes e que tais.
Clarice escondia as canelas finas em calças largas e o verão era um tormento.
Dora não gostava dos dentes separados, ainda que o pai lhe mostrasse recentemente em uma revista que isso tinha sido um charme nos anos 60/70, e não se importava com a história de que moda vai e vem!
Elaine não gostava dos seios grandes. Não que fosse um problema de saúde, desses que alteram a postura ou causam dor, mas sonhava ser como as modelos, nada de frente, nada de costas.
Fabiana jurava que tinha os joelhos tortos e as saias eram sempre longas, as calças arregaçadas, nada de bermuda ou minis e na praia, nada de caminhadas longas.
Gabriela tinha arrepios do formato das sobrancelhas, usava a franja longa na tentativa de esconder e já mencionara a idéia, considerada maluca pelas amigas, de depilar definitivamente e tatuar como queria que fosse.
Helena não gostava dos ombros. Arqueados, pequenos e por isso divertia-se ao mesmo tempo em que sofria, observando os nadadores e os felizes de nascença.
Irene era tão branca que quando criança o apelido de lagartixa a fazia chorar muito. E nenhum sol era capaz de dourar-lhe a pele. Experimentou tudo o que a ganância sugeriu e a ciência alertou e resignou-se.
Joana, ao contrário, não gostava de ser mulata. Cor do meio, nem lá nem cá, aquela moreninha, ponto de referência, com cabelo nem liso nem crespo, não gostava de coisas indefinidas e tudo nela parecia não ter se decidido.
Karla não gostava dos cabelos lisos e finos, com pouco volume. O que parecia refinado, naturalmente chique era motivo de ira e bobes e interferências no salão dessas modernidades que tudo transformam, mas que não duram.
Lucila não se lembrava de ter usado uma blusa, uma camiseta sem mangas, porque a ela parecia que o braço já lhe nascera flácido. Uma pessoa de acenos contidos.
Márcia cresceu em família humilde, sem informações, com os dentes muito pronunciados e sofria muito por isso. De verdade eram muito feios, mas Márcia era uma pessoa tão alegre, tão divertida, que nunca se pensou que os dentes a chateassem tanto.
Nair não gostava dos pés. Com o segundo dedo maior que o dedão nunca se convenceu de que fosse um sinal de que se casaria com um homem rico e não esperou por isso e se casou com o Otávio mesmo.
Olívia não se conformava da irmã ter a bunda tão rebitada e ela nada. Nenhuma curva, nenhuma calça jeans atraindo um assobio.
Paula, ao contrário de Olívia, não gostava de seu bumbum tão avantajado. Desproporcional em relação às pernas, nenhum biquíni caindo bem, os vestidos ficando mais curtos atrás do que na frente.
Quitéria não gostava das sardas do rosto, das pernas, dos braços. Não se lembrava de como elas foram surgindo, mas colecionava uma lista de apelidos encabeçada por ferrugem e de sugestões como lavar o rosto com água de arroz para clarear.
Rosangela não gostava dos seios pequenos. Tão pequenos que não faziam volume nem na mais leve camiseta para desconsolo na hora de experimentar uma e outra roupa nova.
Soraia tinha pavor das orelhas de abano e de qualquer procedimento cirúrgico que a pudesse livrar desse pesadelo. Era, de fato, uma orelha muito aparecida e não havia volume de cabelo capaz de tomar aquela vontade de aparecer.
Tânia não gostava dos lábios finos. Tinha crescido bem com eles, sem botar reparo como diziam lá no interior até que Angelina mudou sua história para sempre.
Úrsula tinha um nariz de batatinha, arredondado e pequeno, perdido no meio de olhos e boca delicada. Deslocado, definitivamente.
Valéria tinha as pernas curtas. Não usava calças para não reforçar e no inverno as botas queriam abocanhar os joelhos, achatando ainda mais a silhueta.
Wanda era estrábica. Um olho espiava sedutoramente para o outro lado, mas um comentário sobre isso podia acabar com o bom humor da conversa fosse entre amigos, família, no novo emprego ou em qualquer lugar.
O X da questão é que sempre há alguém com pena de si mesmo porque algo não está de acordo com a imagem que se quer ter de si mesmo.
Isso desapareceu da vida de Yone quando ela passou uma prova danada na vida e a Zenaide que foi visitar lhe disse, sabe, eu li em algum lugar, alguém falou que a vida é bem boa quando não se morre. E de A a Z, pelo menos essas duas pararam de se queixar de suas orelhas e que tais!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.