O sol estava de mau humor, escondido entre nuvens, deixando as pessoas mais lentas, bocas sedentas.
O sapato apertava um pouco o pé e a ladeira parecia pedir desculpas.
Subi devagar.
O que fazer se não olhar as pessoas.
Quem olha entende, quem entende não maltrata, quem não maltrata vê além do que se mostra e adivinha histórias.
O casal ocupava além do portão aberto, metade da calçada.
Ela fumava. Tarde demais para num esforço deixar o vício? Não, nunca é tarde.
Ele, de camisa do timão, apenas vestia, não ostentava.
Passei.
Três homens sentados no muro baixo, logo depois da esquina.
O menor deles, menos de dez anos, orgulhoso de fazer parte do grupo.
A loja de roupas fechada ostentava um bilhete na porta: volto em uma hora. Mas a partir de que horas? Não dizia. Ele podia ficar eternamente ali a confundir toda gente, mas se nenhuma gente quer entrar, que diferença faria?
Um moço apressado resmungou alguma coisa na ultrapassagem, mas não captei. As pessoas resmungam sozinhas o tempo todo.
O mercadinho se descortinou.
Sempre esteve ali? Com aqueles cocos verdes na porta? De donos orientais?
Ah, descer uma rua no calor é recuperar um pouco mais de calmaria, quase bom humor.
Os grupos de jovens são sempre incógnitos e despertam um sentimento sobre o qual muitas vezes não se quer falar porque ser criança, jovem ou velho não é coisa que se pode optar.
O sapato chamando para si os olhares das meninas dos grupos.
E até mesmo da menina solitária, bonita, cabelo trançado displicentemente e aqueles olhos cor cinza.
Cada qual leva atrás de si, como uma calda invisível, uma história, a sua história.
Aceito doações de histórias.
Muitas delas querem desesperadamente uma narração.
Pode ser por email: lusia@lusianicolino.com.br
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