Eu me preocupo com o destino das coisas. Novas ou velhas.
Não pelo fator moderno da sustentabilidade.
Há quarenta anos, quando perdia um lápis na escola ficava apreensiva com a solidão dele, embaixo de uma carteira qualquer, no escuro, sozinho, sem o calor dos meus dedos magros.
Então, não é de hoje que o destino das coisas ocupa espaço em mim.
Velhas ou novas, eu sofro por elas.
Hoje de manhã ouvi no rádio a notícia das aeronaves. Fiquei triste.
São ao todo, por todo o país, 119 aeronaves abandonadas nos aeroportos.
Em Congonhas há nove jatos da antiga Vasp. Ocupam um espaço do tamanho de três campos de futebol. Não voam desde 2005.
Será que fui passageira em um deles?
Que medo devem sentir.
Que saudade arrepiante devem ter quando ouvem os roncos das turbinas naquele sobe e desce exagerado dos que estão em plena atividade.
As brigas judiciais por esse patrimônio corroem o porte imponente.
Depois de ouvir no rádio fui ler mais a respeito e descobri que um ex-funcionário da Vasp tenta, sozinho, evitar o pior. Ele toma conta daqueles gigantes indefesos e doentes.
Ele diz: Entro, vejo, olho as portas, se não estão abertas, se está entrando água, se não está danificada, com problema. Se não tem ventania que deu e soltou. Tem que manter sempre olhando.
O nome dele é Josafat Cândido.
Cândido é um nome cheio de significados.
Fico pensando que aqueles grandalhões devem ter um amor enorme por esse homem e que o maior medo deles, ainda que secreto, é que um dia ele não chegue para verificar se entrou água.
Para Josafat também é ruim ver os aviões abandonados, sucateados: Eu me sinto um coração em pedaços, ele diz.
Não sei se o Sr. Josafat vai contar a eles que o plano é desmontá-los, vender as peças, porque inteiro ninguém quer comprar, leilões já fracassaram.
Eu comprava se pudesse. E soltava no ar que nem passarinho, só pelo prazer de salvar as coisas de seus destinos sem humanidade.
Eu comprava se pudesse. E soltava no ar que nem passarinho, só pelo prazer de salvar as coisas de seus destinos sem humanidade.
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