quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Silêncio

O silêncio cobriu a sala como um lençol branco que protege os móveis depois que alguém enviuvou.
O silêncio pode ser mais cruel do que palavras que atropelam a situação e se embaralham no embate até se perderam em um copo d água.
O silêncio embaraça.
O silêncio constrange.
O silêncio permite ouvir o coração que não cabe no peito.
O silêncio permite ver a dança da pulsação do punho que acompanha a mão.
O silêncio avança noite adentro e não tem pressa.
O silêncio desperta os pássaros e não se importa com a algazarra deles.
O silêncio permite o farfalhar das árvores que adoram brincar com o vento.
O silêncio não se importa com a cantoria da cigarra.
O silêncio é maior do que tudo isso.
O silêncio suporta o barulho do mar.
O silêncio dói.
Quando o silêncio cobriu a sala ele procurou desesperadamente uma palavra, mas não estava acostumado a ser o primeiro a falar.
Quando o silêncio cobriu a sala ele nunca imaginou que ela fosse permitir.
Quando o silêncio cobriu a sala ele entendeu que seria como um lençol branco que iria proteger os móveis depois que alguém enviuvou.
Ele nunca acreditou que fosse ele e saiu sem bater a porta.

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