Perpetuamos-nos de várias formas.
Os grandes descobridores sobrevivem hoje e de muitos deles não sei nada mais além de sua brilhante invenção. Se teve pai e mãe presentes em sua infância, se teve irmãos, se teve filhos, nada sei.
Grandes escritores.
Grandes músicos.
Grandes pintores.
Sobre grandes homens que apenas cresceram, amaram os seus, trabalharam, olharam o céu em dias de céu claro ou de céu escuro, nada sei.
Mas nos perpetuamos entre os nossos.
Meu pai foi um desses homens que nada descobriu, que cresceu jogando bola e amou os seus.
Que adorava os dias de céu azul e temia os dias de céu escuro.
Não escreveu nenhum livro, mas nos deixou cadernetas com anotações em sua letra firme: a data do primeiro corte de cabelo do meu irmão, quanto custou abastecer o tanque, quanto devia pagar ao açougue no final do mês, datas de viagem...
Não escreveu nenhuma canção, mas eu ainda respondo o assobio que ele dava ao chegar em casa e anunciar-se.
O que mais me entristece e enternece é ter sabido anos depois que ele confessou à minha mãe que não mais o faria - depois que me mudei para São Paulo - porque eu não estava mais lá para responder.
E mesmo sem canções ou livros meu pai perpetuou-se.
Em mim, nas minhas irmãs e irmão, nas histórias que contamos sobre ele quando nos reunimos, nas histórias que contamos sobre ele para nossos filhos.
Perpetuamos-nos se amamos e não é nenhum consolo, apenas uma constatação!
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