Maria José era uma mulher de fibra.
Não tinha preguiça nenhuma. Cresceu em família pobre, mas dessas que não economizam comida.
Pelo menos uma vez por semana a mãe fazia uma panelada de carne com mandioca e as crianças cresceram coradas.
Trabalhadoras.
Maria José não estudou muito. Aprendeu o nome, tirou documento, até votava, lia uma revista ou outra, mas nada desse negócio de romance.
A Maria do Carmo sim era doida por esses romances que comprava na banca de revista, mas Maria José não.
Ela se cansava.
Trabalhava por conta, era faxineira em várias casas, em bairros longes, de casas bonitas e mulheres nem tanto, mas exigentes.
Maria José acordava cedo. Dependendo do dia tomava até três conduções para chegar ao trabalho e quando chegava... ah... nada de escutar rádio, ver revista da patroa, conversar com a empregada ou a babá ou com a faxineira da vizinha. Essa piorou.
Fazia o serviço concentrada, com cuidado para não quebrar nada, com esmero pra ficar tudo perfeito.
Era muito cuidadosa a Maria José.
Em maio ela começou a trabalhar em uma casa nova, indicada da Ivoneide, que fora trabalhar com o marido na banca de café e bolo.
A dona da casa saia de manhã para trabalhar e voltava à noite, deixava bilhetes pela casa toda, faça isso, faça aquilo e a Maria José, além de fazer, ia respondendo todos os bilhetes com sua letrinha feia.
Ela se firmou em mais essa casa e adorava.
Um dia, no quarto onde ficavam as roupas para passar, a Maria José encontrou uma sacola com roupas e um bilhete dizendo que ela poderia levar para ela, se não se importasse, eram roupas que poderiam servir para ela ou para algum parente.
Um bilhete delicado, quase se desculpando por ter tanto para dar. A Maria José até achou graça.
Trabalhou ainda mais contente.
Em casa se fechou no quartinho e experimentou. Tudo cabia. Uma maravilha.
E, no fundo da sacola, ajeitadinho, estava o vestido vermelho de decote V.
A Maria José quase nem pode acreditar. Era lindo! Ela ficou parecendo uma artista de tão direitinho que o vestido ficou.
Lembrou da Denise que vivia falando que ela tinha um corpinho de quem faz ginástica o dia inteiro. Ela riu, e então não era verdade? Esfregar chão, janela, passar aspirador, andar depressa quando o ponto de ônibus era longe... E isso não era ginástica?
Ficou se olhando no espelho. Uma belezura.
Naquele fim de semana a Maria José foi à missa.
Ela nunca ia, aproveitava para dormir um pouco, descansar.
Mas onde mostrar aquela coisa rica se não na missa aonde o povo todo do bairro ia pra isso mesmo? Pra ver as roupas?
A Maria José foi à missa tão elegante que o Edgar até comentou:
- Acho que ela "enrico"... Antes ela gostava de mim, quando era mais moça, será que ainda gosta?
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