Abriu a bolsa.
Sabia que não precisa de nada do que estava lá.
Olhou, procurou com as mãos cegas.
Sabia que não encontraria ali nada do que estava procurando.
Estava procurando a calma de dias passados.
A ternura das palavras ditas sem preocupação.
Procurava um jeito de desaparecer.
Um jeito de recomeçar.
Um jeito de reconhecer.
Abriu a bolsa, mas procurava dentro de si um novo jeito.
De olhar, de sentir, de falar, de tocar.
De contar que aquela história não tinha importância.
Que aquele momento foi muito infeliz.
Que aquele futuro que planejaram ainda era possível.
Procurou com as mãos cegas um caminho que sabia nunca estaria pronto.
Que nunca estaria livre de pontes rotas, de pedras silenciosas esperando a lua criar sombras.
Nunca se viu sombras tão lindas quanto às geradas pela lua.
Serenas, suaves.
Diferente das sombras do sol. Duras, marcadas. Irrequietas.
Abriu a bolsa enquanto passavam porque assim não precisava levantar os olhos.
As mãos cegas protegeram o coração daquele batuque ritmado e tudo passou.
Nunca mais seria como antes, mas pelo menos, agora, tudo estava de novo em seu lugar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.