O domingo foi chuvoso.
A piscina aquecida acalmou a ansiedade das crianças que puderam mergulhar mesmo com aquela chuvinha fina. Uma chuvinha de sorriso de lado, de quem sabe que não é bem vindo, mas se diverte impondo sua presença.
À noite também choveu.
E a segunda-feira, como era de se esperar, amanheceu chuvosa.
Uma chuva sem preguiça de cair. Forte, saudável, sem piedade de molhar os pardais não abrigados nos beirais dos telhados.
E as estradas são um capítulo à parte em dias de chuva.
Uns mais atrevidos do que outros. Uns mais precavidos do que outros e em certos momentos, tanto uns quanto outros podem ser prejudiciais à saúde dos motoristas diários dessas grandes avenidas.
De repente me senti em uma procissão sem santo no andor, tamanha a lentidão em que a fila seguia.
Quando voltamos a mudar marchas e acelerar, um santo apareceu pouco antes de uma curva fechada.
Um santo homem que caminhava pelo acostamento, sem se abrigar da chuva, mas passo decidido de quem vai trabalhar.
Fez um sinal com a mão, alertando sobre a velocidade.
Um gesto simples de quem cumprimenta um amigo.
Um gesto de quem observa os controladores de tráfego.
Um gesto de quem, mesmo caminhando na chuva, se importa com quem vai confortavelmente instalado, aquecido, ouvindo música.
Um gesto que, obedecido, impediu uma grande colisão porque logo após a curva, uma fila enorme de carros e caminhões se formara, de tal sorte que não víamos antes de lá chegar e de má sorte porque sem o santo do acostamento não teríamos como evitar o choque.
Ele passou por mim. Ele passou por nós.
Espero que os santos dos andores possam agradecê-lo pelo gesto que para mim valeu muito e do qual, a essa hora, ele nem deve se lembrar.
Alguém mais além de mim?
Perfeita poesia do dia-a-dia. Honesta, sincera, delicada. Apenas olhos que se permitem ver além do trivial, são capazes de captar a gentileza de um transeunte solitário - e solidário.
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