quinta-feira, 7 de abril de 2011

Fique por perto

Confundo as pessoas. Não por mal, porque me atrapalho na vida.
Tropeço na confusão dos meus pensamentos.
Se eu soubesse como erguia uma cerca entre o lado direito e esquerdo do cérebro, separaria números e poesia e talvez a vida fosse mais fácil.
Mas eu não sei como e sigo confundindo as pessoas.
Não que eu as deixo sem entendimento, não desse jeito, eu cumprimento as pessoas erradas ou não cumprimento as pessoas certas.
É isso.
Tomava café em uma padaria com integrantes do meu grupo de teatro, esperando o diretor chegar.
Vi um moço passando e tive certeza de que era um dos nossos.
Deixei o balcão e pendurei-me em seu pescoço em um abraço de quem convidava para um café, nada mais que isso. Alegre, falante.
O moço se virou assustado. Tinha um rosto que eu nunca tinha visto antes.
Fiquei sem graça e não houve desculpa ou explicação que abrandasse o constrangimento.
E tantas vezes que pessoas me cumprimentam, me chamam pelo nome e processo milhões de informações para juntar nome à pessoa nem sempre com sucesso.
Dia desses, no Market Place, saindo de uma loja, fiz psiu, apertei o passo, até alcançar uma moça e tocar-lhe no braço, certa de que era minha amiga Eliana. Não era.
Vamos chegar a um aplicativo que nos permita fotografar discretamente as pessoas e descobrir tudo sobre elas. Eu precisaria desse recurso, mas me recuso a usar. Eu sou assim. Eu tropeço entre os meus lados e não é por mal.
Todos moram em minha memória afetiva, apenas tenho certa dificuldade para acionar.
Não faz muito tempo, em um restaurante, uma mulher e eu nos olhamos e tivemos a mesma sensação: te conheço, mas não sei de onde. Antecipei-me e disse:
- Oi, eu sou a Lusia, trabalho... De onde nos conhecemos?
Ela riu, me deu as informações e confessou aliviada que também não lembrava meu nome.
Pode não funcionar com todo mundo, mas foi divertido e me permitiu alertar: posso não te reconhecer se por algum tempo você desaparecer. Fique por perto!

Um comentário:

  1. "... sigo confundindo as pessoas. Não que eu as deixo sem entendimento, não desse jeito, eu cumprimento as pessoas erradas ou não cumprimento as pessoas certas." - Talvez um dia o muro que separa desejo e constrangimento caia, então possa dizer "oi, bom dia". E cumprimentar a pessoa certa.

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