quarta-feira, 17 de agosto de 2011

DNA

Meu pai anotava em caderninhos coisas do cotidiano. Ainda temos um em que se lê a data em que ele levou meu irmão para cortar o cabelo pela primeira vez.
Também eu vou anotando coisas do cotidiano. As meninas cresceram depressa demais e já não dou conta.
Visito anotações para fazer descobertas e constatações.
Como são tão diferentes sendo tão iguais quando dormem!
Minha primogênita sempre com a argumentação em ordem e o queixo levantado.
Em um passeio fora da cidade, depois de uma traquinagem e uma bronca se sai com essa:
- Ah, é? Tudo bem. Não vou voltar com vocês, vou procurar uma família nobre pra mim! 
Aos quatro anos!

Já a minha caçula, olhar de lado, voz mansa, bastava pedir alguma coisa que a resposta fosse não e imediatamente ela mesma completava:
- não, é mais tarde!
- não, é amanhã!
- não, é depois!
Aos quatro anos! Fazendo parte da solução. Apaziguando. Evitando confronto.

Mesmo DNA. Mesmo leite com chocolate. Mas livros diferentes nas estantes, brinquedos diferentes. Mesmos filmes, mesma assinatura de revista infantil. Mesma escola, mas atividades diferentes.
Mesmo amor.
Galhos de minha árvore genealógica.
Só espero que cresçam e floresçam na medida exata do que entenderem ser a felicidade.
Não precisa mais.

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