Era palhaço o Gilson.
Não se pode dizer que de segunda categoria, mas palhaço.
Animador de festas em buffet infantil, contratado para festas em escolas, no shopping no dia das crianças.
Até em comícios o Gilson já trabalhou.
Palhaço.
De um mau humor e uma cara amarrada incompatíveis com a profissão de palhaço.
Mas um personagem.
O Gilson queria mesmo era ser ator. Fazia peças na escola e depois teatro amador.
Sonhava com o teatro profissional, depois a televisão, cinema, entrevistas em jornais e revistas e uma biografia para a eternidade.
Pois nada disso se concretizou e ele ficou apenas sendo palhaço.
No bairro ninguém sabia.
E a mãe e a irmã não se arriscavam a comentar, ai esse mau jeito do Gilson podia acabar não se sabe como.
Especulações, muitas.
Uns diziam que o Gilson era travesti, que saia muito aos finais de semana, sempre calado e carregando uma bolsa de viagem.
Outros achavam que ele era investigador de polícia, desses que nem podem dizer o que são porque correm riscos.
Havia até os que achavam que o Gilson era prostituto de mulheres velhas e ricas.
Nunca perguntavam nada a ele. Quando ia à padaria, ao açougue, à farmácia. Cumprimentos rápidos e secos para manter o mínimo de cordialidade e nada mais.
O Gilson andava chateado, cansado, sem perspectivas.
No último sábado trabalhara das sete da noite até as dez horas. Voltando para casa, com frio, entrou no bar e tomou um conhaque. Depois outro.
Foi o que bastou para deixá-lo meio tonto, esquisito, já que nunca bebia. Foi para casa.
Na rua, ainda meio tonto, esbarrou em um adolescente, parte de um grupo. O menino gritou:
- hey palhaço!
Ele apenas pensou: é, é o que eu sou.
E seguiu seu caminho sem arrumar confusão.
Um palhaço, o Gilson.
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