quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Adulto sozinho

Apanhou uma rosa, machucou a mão.
A mãe sempre dizia para não apanhar as flores.
Mas a rosa estava tão linda e fresca naquela manhã de sol insinuante depois de noite chuvosa que não resistiu.
A mãe já não estava mais.
Caminhou apressado para não perder o sinal verde e atravessar em segurança.
Tinha mesmo era vontade de se sentar em um banco de praça e olhar os pombos.
O pai implicava com os pombos.
Lembrou-se de uma casa em que morou e que uns pombos vieram se alojar no alpendre.
Uma confusão!
O dia estava tão lindo.
Um pecado alguém ter que se enfiar em um escritório em dia tão lindo!
Quem será que definia quem nasceria em cidade grande, pequena, em cidade de praia, em cidade de montanha?
Deus, destino, acaso?
O acaso era o mais poderoso senhor do tempo.
Estava sorrindo com seus pensamentos quando a senhorinha que também esperava para atravessar a rua elogiou a rosa.
Despertou.
- Então é toda sua, ela estava mesmo à procura de outra flor!
A senhorinha, cabelo quase azul, tentou recusar mas não resistiu.
Ele ficou tão vermelho que atravessou a rua quase correndo e quase sem ouvir o singelo agradecimento.
Ele não saberia mesmo o que fazer com uma rosa em escritório tão frio e inóspito.
Ficou pensando se aquilo que dissera poderia ser considerado poesia, depois não se importou mais com isso e apenas se desculpou com a mãe lá no céu:
- Viu Dona Eulália? Foi por uma boa ação!
E seguiu seu destino de adulto sozinho em cidade grande.

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