Os desenhos me perturbam.
Quando eu era criança, na catequese, a lição era desenhar uma santa ceia.
Quem em seu juízo perfeito pode pedir isso?
Fiquei apavorada.
Era muito aplicada até nas lições da catequese ou seja, fiquei apreensiva com um dever que eu sabia que não seria capaz de realizar bem.
Minha irmã Lúcia, mãos de fada para desenhar.
Eu sempre admirava uma casa linda, enorme que ela havia desenhado e escrito la maison, assim, em francês, bem chique.
Pedi a ela que desenhasse a tal santa ceia. Desenhou.
Caprichada, detalhada, mas para mim, horrorosa. Talvez porque eu não tivesse feito.
Talvez porque fosse bem diferente das linhas retas de la maison.
Eu sempre tão porco espinho!
Joguei o caderno no chão, rasgou, tentei apagar, ficou sujo. Um caderno retangular, com capa vermelha de camurça, em quanto tempo terá sido consumido? Gostaria de tê-lo agora.
Meu pai, um desenhista habilidoso. Brincava com as duas mãos, desenhando figuras diferentes ao mesmo tempo em ásperos papéis de pão. Desenhava árvores lindas e talvez por isso, em um exame psicotécnico de renovação de habilitação a psicóloga pediu: desenhe uma árvore e um homem.
Fez a árvore. Entregou. Onde está o homem? Pergunta com um misto de enfado e irritação.
- atrás da árvore, é tímido...
Mas em segundos, com o papel de volta, desenha um homem. Não uma bolinha com pauzinhos representando pernas e pés.
Os desenhos que encontro em minha casa.
Eu mesma retratada por meu amado, me achando linda, e ele: ah, não é nada, foi olhando uma foto.
E minhas pequenas? Mãos ágeis mas de movimentos suaves, traços firmes. Detalhes. Caminhos que me cercam de desenho.
Desenho apenas palavras mas nem sempre elas me bastam e por isso, continuo parasita dos traços dos que amo e dos que me amam porque sempre muito generosos.
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