E como percebia que ela o olhava pelo rabo do olho (quem inventou essa história de por um rabo em olho, que é órgão tão poético do corpo humano?) começou a balbuciar qualquer coisa.
Não gostava de rezar, mas a mãe explicava coisas de Jesus.
Entendia mais ou menos quem tinha sido esse cara, mas depois de tantos anos, será que ele ainda rondava por aí para se certificar de que as pessoas continuavam a amá-lo?
Tudo agora é tão diferente.
Não sabia se esse é o mesmo cara em todas as igrejas, se sim, por que tantas diferentes?
Mas a mãe não queria nunca explicar.
Não estava seguro se porque de fé cega não cogitava nem questionar ou se porque pressionada não saberia explicar uma porção de coisas.
Ele sempre desafiava em suas orações: se eu rezar uma ave-maria e um pai-nosso amanhã a professora de matemática vai faltar e a prova será adiada.
E cada vez que ele desafiava e nada acontecia desacreditava um pouco mais.
Mas não ousava contar isso para a mãe.
Seguia seu ritual de ajoelhar-se ao lado da cama antes de dormir, balbuciar uma coisinha ou outra, fazer o sinal da cruz ao acordar e ao passar em frente a uma igreja e isso era tudo.
A mãe prometeu comprar-lhe um terço de prata quando fizesse treze anos, mas ele preferia mesmo umas edições atrasadas de mangás.
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