Noite fria de outono.
Há outros carros, mas não estou interessada neles.
Sei os trajetos, as ultrapassagens, os descuidos.
Sei de tudo.
O que me distrai é a lua.
A lua pisca para mim já na saída da cidade.
Ela sabe que pode me guiar.
Ela sorri.
Ela sorri um sorriso luminoso e me convida a esquecer os atropelos do dia a dia.
Tem alguém mais apressado?
Pode passar. Eu conheço as regras das pistas de rolagem.
Ela me acompanha. Brinca comigo nas curvas.
Posiciona-se para me surprender quando penso que já ia desaparecer.
Olho pra ela.
Encantada como se estivesse em uma lenda indígena.
De repente dou de cara com ela.
Surge brincalhona, nem preciso saber em que quilômetro estou, sei que vou chegar.
A lua não me deixa esquecer que tudo o mais é tão pequeno.
Que não importa que língua eu falo, que história eu conto, que dança eu danço, que cor eu gosto.
Ela está acima de qualquer coisinha dessas e não se importa, não quer nada em troca.
Desconfio que ela e eu gostamos da mesma frase de Clarice:
Escuta: eu te deixo ser, deixa-me ser então
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