terça-feira, 8 de junho de 2010

A morte dos outros

Nossa impressão digital é única. Nos distingue.
Nossas percepções também.
Quando somos muito diferentes buscamos alguns iguais, mesmo que poucos, para entender nosso universo.
Nossas mortes são experiências profundas.
Como uma impressão digital se instala em nossa alma.
A cultura dos povos desenha traços ligeiros na reverência. Alimentos para uns, flores para outros, resignação, indignação, velas.
Para os mortos que conhecemos.
Para os mortos que não conhecemos, sensacionalismo.

- quem morava nessa casa?
- uma família que entristeceu muito
- por que?
- a mãe pediu a menina que fosse ao açougue comprar uma carne, ela trouxe o pedido errado, a mãe ficou brava, deu um tapa na bunda e mandou ir trocar, não tinha mais que sete anos, foi chorando, atravessou a rua sem ver, não voltou
- então eu não quero morar aqui

- mãe, ouvi o trem bater muito forte, acho que pegou um carro
- fica aqui, não vai sair!
- vou lá ver
- não vai
- moço o que aconteceu?
- sai pra lá menina, o carro vai explodir!!!
pai e filha saíram machucados, a mãe ficou presa, puxada, escorregava, o fogo consumiu tudo
- quem era?!?

- escuta, você precisa ir visitar a sua amiga Marcia, o pai dela faleceu
- mas não estava doente, o que houve?
- subiu no telhado para arrumar a antena de tv e caiu
- mas a casa é baixa, ele é tão moço, é tão brincalhão
- não é mais

A morte nos ronda, atrevida. Cumprimos nossa jornada e seguimos nossa caminhada por isso, é melhor ser feliz agora.

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