quinta-feira, 1 de julho de 2010

Palco

Sou tímida quando estou sozinha ou com mais um.
Sou uma personagem quando há mais que dois.
Alguém me disse um dia que tijolo para mim é palco.
Já estive no palco.
O palco nos ofusca a vista e não nos deixa ver mais ninguém.
O palco cresce de maneira que a platéia parece confortavelmente instalada em um fosso muito distante.
O balé que dancei.
A personagem que interpretei.
A menina queimada de sol que substitui no tango que sabia de cor porque mais descansava olhando o ensaio do casal do que lanchando ou recuperando as pernas. Premio e castigo.
O canto que esqueci.
O pai que fui.
O operário de capacete verde.
O olho roxo como quem leva um soco do encontrão do primeiro ensaio com luz estroboscópica.
O gesso do pé esquerdo que não me impediu de dançar em um programa de televisão.
O guaraná que derrubei em Ney Matogrosso quando dançamos e cantamos em pleno comício de Fernando Henrique tantos anos atrás, quem há de se lembrar?
Meus amigos espantados:
- viu o que fez?
- virei, trombei com o moço, derrubei guaraná mas pedi desculpas...
- não é um moço, é o Ney Matogrosso
Minha eterna dificuldade em reconhecer os famosos... tão menores sempre, e depois, no palco, ele piscou pra mim! Desculpou-me!
Eu sempre me divirto sozinha, mas gosto de contar as minhas histórias.
Eu, boneca de pano. Desengonçada. Recheio de histórias e grossas costuras que vão abrir buracos no tecido frágil.
Colorido misturado. Estampa nem sempre de bom gosto.
... não subo mais nesse palco, tão pouco minha alma cheira talco como já cantou o Gil, ou não...

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