Na recepção da clínica de fisioterapia, espero a mocinha simpática me atender.
A despeito de todos os gadgets que povoam minha bolsa escolho o aquário para me distrair.
Se eu fosse um peixe tudo estaria resolvido.
Meus limites retangulares e transparentes já estariam definidos.
Minha alimentação. Ainda não almocei e eu sozinha tenho que decidir se almoçarei ou não.
Meus passeios por entre as bolhas ou as pedras seriam as opções.
Ficar no alto, espiando um céu branco com um pontinho branco de luz, ou no fundo, vendo seres imensos que se mexem sem propósito.
Eu não teria nada a fazer a não ser nadar.
E então escolho ser o peixe prateado e começo a viver a sua vida de limites e sem stress.
O limite é o pior dos pesadelos.
Um peixe amarelado o “cutuca” e não há para onde ir, não há escapatória a não ser nadar em arrancadas para distanciar-se.
Quando se acomoda atrás de uma pedrinha tímida, outro peixe vem lhe incomodar e tirar o lugar.
Não é dono de sua fome e da maneira como abre a boca e beija o vidro eu bem poderia entender que já quer comer, mas tem que esperar.
E que sofrimento se alguém esquece de alimentar.
Não quero pensar nos finais de semana, há de existir um esquema. Um aquário há de ser mais do que um bibelot.
Brincar nas bolhas de ar.
Descer para a pedra, outra vez vazia, outra vez ocupada.
Um navio de plástico que mais invade do que preenche o espaço.
Não, se eu fosse um peixe ainda teria muita coisa para decidir e resolver.
Toda existência dói, é só saber olhar.
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