Não se lembrava mais de quando foi que as coisas começaram a perder o cheiro de novo.
Tampouco de quando foi que resolveu amarrar as pontas da cortina, como se fosse um novo jeito, mas que na verdade era um truque para que as pontas puídas não ficassem tão visíveis.
O vaso da sala tinha uma rachadura, de leve, que uma vez enganou uma visita que tentou tirar achando que era um fio qualquer.
Deu um sorriso amarelo, não sabia agir com naturalidade quando estava envergonhada e não tinha porque se envergonhar, mas era inevitável.
O tapete da sala parecia estar ali há anos.
E estava mesmo.
E se pintasse as paredes?
Tinha visto um anúncio em uma revista de uma tinta bem fácil de usar, sem cheiro, aparecia uma mulher pintando um quarto, e grávida!
Ela poderia.
Poderia? Será que o braço não ia doer? E se começasse e não conseguisse terminar?
De duas uma: ou ficava com a parede da sala horrível ou chamava alguém para terminar e além da vergonha teria que pagar um dinheiro que não tinha.
Não, melhor não.
O sofá tornara-se um velho carrancudo.
Os CDs sem função mais pareciam um exército sem função em um país sem guerras e sem fronteiras.
Não se lembrava mais de quando foi que a campainha parou de tocar e o telefone tocava apenas de domingo quando alguém em vez de perguntar afirmava:
- Então, tá tudo bem, né? Nós vamos até... almoçar com... e por isso não vai dar pra passar aí, mas olha...
Não tinha mais nada pra olhar, a não ser as fotos organizadas muitas vezes em caixas coloridas.
Fazer um café. Isso sim tem sempre um cheiro de novo e é sempre uma boa companhia.
Se ao menos chovesse, podia dizer que com a chuva não dá pra ficar andando pra lá e pra cá, mas com esse solzinho...
Melhor por a água pra ferver.
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