Quando eu a chamava de "vó melía"... ela se abaixa para ficar da minha altura, me olhava bem nos olhos e dizia:
- ei, você quer crescer menina boba? porque fica falando assim, como um bebê?
E eu ria muito. Eu falava com ela como um bebê aprendendo suas primeiras palavras e ela ficava preocupada.
Depois quis me ensinar a fazer croche!
Tardes torturantes, de mãos duras, de agulha que não se encaixava entre meus dedos magros, de pontos desengonçados, desencontrados e de muita risada.
Ela não, ela era habilidosa.
E, contra mim, duas irmãs mais velhas que produziam peças primorosas...
E era certo que eu invejava meu irmão, se eu fosse um moleque, ninguém se importaria com esse negócio de linhas e agulhas.
Mas eu tentava porque era prazerosa a companhia dela e o carinho que dedicava as nossas aulas.
Minha irmã caçula, que podia correr pelo quintal, se sentava quietinha, ao lado, aprendendo mesmo sem ter idade.
Fiz um lenço de cabeça. Um triângulo que na época era moda.
Ele ficou horroroso, desengonçado e não lembro bem mas deve ter demorado uma eternidade.
Era marrom. Um marrom feio, mas certamente a linha fora escolhida porque não serviria para mais nada além de minhas tentativas.
Fomos visitar minha irmã em sua casa de boneca de recém-casada e fui com o lenço.
Mas... ia voltando sem ele!
Eu ria muito. Lembro do sol, do céu azul, de uma avenida de cidade do interior e de três meninas voltando em seus passos por 3, 4 quarteirões a procura daquela peça histórica.
Foi encontrado ao pé de uma arvorezinha que lutava para crescer.
Não tornei a por na cabeça.
A nona resmungava entre cansada e feliz.
Minha irmã se aguentava nas perninhas.
E eu, era uma irritante, com um acesso de riso.
Meu Deus, onde será que aquele lenço foi parar?
E a alegria daquele riso então? Dentro de mim, em algum lugar, há de estar!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.