quinta-feira, 15 de julho de 2010

Menina do passado

Era uma menina lânguida.
Lânguida na terceira definição do dicionário aurélio que descreve:
1. sem forças, sem energia...
2. mórbido, doentio...
3. voluptuoso, sensual, langoroso...
Em que momento definições tão diferentes se encontraram na mesma palavra ninguém sabe precisar.
Langorosa é a palavra.
O sorriso tranquilo de quem absorve sem devolver.
Os olhos oblíquos, talvez pequenos, que advinham sem que ninguém lhe conte nada.
Andar de bailarina que abdicou da rigidez das pontas.
Lembro da camisa cor de rosa.
Do agasalho esportivo cinza.
Da sandália preta amarrada com displicência.
Do namorado alto e magro, quase curvado em sua indiferença.
Lembro do olhar assustado.
Lembro do ombro ossudo e das pernas magras que não escondiam o que a minisaia queria mostrar mesmo muito juntas e comportadas.
Era uma menina lânguida, é uma menina escondida nos dias que foram transformando tudo em rotina, em desesperança, em senso comum.
O sorriso ainda é o mesmo, mas vem marcado nas laterais.
O olhar é mais profundo e me pergunta:
- onde anda você, que vem e vai, aparece, parece me salvar e desaparece como nunca imaginei que seria capaz?

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