segunda-feira, 5 de julho de 2010

Manhã de sol

Olhou demoradamente para as crianças que brincavam na rua.
Um cachorro passeava pelo sol, sem rumo, rabo sempre acenando.
Viu a roseira com brotos novos e uma vez mais pensou que roseiras parecem plantas cultivadas sempre por velhas senhoras.
Mas de onde vem tantas, de tantas cores, nas bancas de flores?
Dos roseirais. Nunca viu um roseiral.
Deixou-se ficar no sol.
Uma tristeza tamanha que mal cabia dentro do peito.
Os pés enfiados na meia velha tão quentinhos que tudo o mais poderia esfriar.
Olhar para o azul do céu... tão bom porque luz tão forte borra tudo e nada mais se vê a não ser manchas com formato de nossa íris.
Íris é um nome de mulher.
Se tivesse nascido Íris, que destino teria?
Uma lenda antiga lhe segredara que quando morremos vamos para uma outra dimensão e preparamos nossa volta com um plano que inclui até a escolha do nome... Não podia acreditar.
Teria escolhido outro nome, seguramente.
Nomes tatuam nossa alma, não, não pode ser, teria escolhido um nome mais simples, um nome mais curto, um nome igual a milhões de outros para desaparecer entre eles.
As crianças na rua nem a viam no sol. Lagartixa.
O cachorro não lhe pedia nada, passeava indiferente, um poste a mais.
O que fazer com aquela tristeza?
Fechou os olhos, imaginou a tristeza um papel rabiscado, amassou, jogou no lixo e recolheu-se.
A casa gelada, há tantos anos habitada, simplesmente a absorveu.

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