As histórias me procuram e eu não posso guardar todas elas, ficam me dizendo ao pé do ouvido que precisam ganhar o mundo.
Deito-me na cabine da fisioterapia, preparo-me para pensar em nada por uns trinta minutos quando retalhos de um cotidiano começam a se costurar.
A mulher da cabine ao lado pergunta tudo sobre sua enfermidade indignada porque não pode mais fazer flexões, alguns movimentos de alongamento e tão pouco dormir com o braço sob o travesseiro.
Exige saber como essa inflamação instalou-se aí e se ela fizer as sessões todos os dias da próxima semana ficará sem dor, porque afinal, ela vai para a Itália participar da colheita das maçãs.
Enquanto ouve a explicação já disca um número qualquer e pergunta tudo sobre um escritório de contabilidade porque vai transformar a funcionária mensalista em diarista e há muito o que organizar com a documentação. E passa endereço de email, telefone, agenda horário, para o mesmo horário em que virá para a sessão, é gentil, educada, chama a interlocutora de amor, de querida e antes de terminar a ligação se dá conta de que agendou dois compromissos para o mesmo horário. E mesmo antes de dizer adeus, já está inquirindo um homem, possivelmente o marido, provavelmente de longos anos pelo tom e organizando toda a história que, de fato, presumo que não lhe interessa.
Isso tudo do lado direito.
Do lado esquerdo um homem jovem, estrangeiro, de inglês como língua materna está feliz porque o novo empregador lhe prepara o contrato com início domingo. Domingo? Penso. Mas é nada menos do que um banco também estrangeiro e que por certo está considerando o primeiro dia do mês não importando o dia da semana.
E conta para a fisioterapeuta que ontem faltou porque não podia dizer não ao novo empregador para participar de uma reunião mesmo não tendo ainda assinado o contrato. E chama um número de telefone e comunica que segunda-feira não poderá mais, que tudo deve ser acertado hoje, que tem compromisso as 17h00, mas pode ser as 19h00, enquanto negocia com a fisioterapeuta que os exercícios não são necessários porque já os fizera na academia de manhã.
Eu apenas escuto. Eu não penso em nada. Leio um texto em inglês sobre o aumento de expectativa de vida das mulheres japonesas e depois outro sobre as perdas financeiras sobre as pausas feitas nas empresas de alguns países quando havia jogos de seus times na copa do mundo.
Algumas palavras me escapam. Eu poderia perguntar ao meu vizinho da direita, mas prefiro voltar a pensar em nada.
Eu gosto de almoçar silêncio quando vou à fisioterapia, mas as pessoas não respeitam isso, por isso, eu esparramo as suas histórias.
Olá! Sou uma paulistana de 41 anos com um relacionamento gemelar incomum. E foi pensando nele que criou um blog para reunir histórias de gêmeos contadas por eles próprios ou por seus familiares. Em Vizinhos de Útero você encontra relatos de gêmeos adultos, depoimentos de pais, fotos de gêmeos famosos e artigos relacionados. Se você é gêmeo ou tem filhos gêmeos, tenha sua história postada também!
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Abs, Jemima Pompeu
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