segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Fim

Pegou o chapéu e saiu.
Não queria levar nada mais além do chapéu.
Pensou em alguns papéis, mas seriam inúteis.
Pensou em algumas fotos, mas o fariam chorar.
Foi saindo devagar.
Pensou em algumas músicas que cantavam esses momentos, mas não se achou personagem de um melodrama.
Hesitou por um segundo ainda segurando a maçaneta, mas saiu.
Não olhou para trás.
Não deixou bilhete.
A única proteção, o chapéu.
Para os cabelos que rareavam, para as idéias que explodiam.
Sem remorsos.
Sem medo.
Pegou o chapéu e saiu com a coragem que levou anos para reunir.
A escolha é sempre nossa.
O momento é sempre dos outros.
Não importa o rumo, importa o primeiro passo.
Não importa o primeiro passo, importa que seja em outra direção.
Não importa em que direção, importa que leve pra longe.
Pegou o chapéu e saiu.
Poderia ter dito tanta coisa.
Poderia ter esperado o domingo, o dia das tristezas.
Poderia ter tomado mais um copo d água.
Poderia ter respondido a única pergunta que se fez.
Mas não queria levar nada mais além do chapéu.
Nem papéis, nem fotos.
Conseguiu dizer até de repente, mas sabia que desapareceria para sempre.
Mal ouviu a porta que se fechava silenciosa atrás de si.

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