sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Reflexão


Para que tantos sapatos se a graça era mesmo ficar descalço e pisar a grama, a areia grossa, a terra molhada?

E um armário entupido de roupas se confortável mesmo era andar em mangas de camisa, uma bermuda feita de uma calça velha cortada na altura dos joelhos?
E para que manter tantas cartas amareladas naquela caixa florida, já desbotada, de vez em quando espanada da poeira inevitável?
Esse tempo já passara.
Não deixou nenhuma cicatriz, nenhuma dor de chorar, mas também nenhuma medalha, nem um ato de heroísmo para contar.
Andou para cá e para lá.
Viajou.
Conheceu pessoas.
Esteve em festas.
Deu festas.
Aparece em uma série de fotografias guardadas em casas fechadas, de histórias veladas.
E ele mesmo coleciona uma série de fotos e em muitas delas sorrisos de pessoas que já não se lembra quem eram, quem são e mesmo assim, as conserva.
Para que tantos discos, CDs, se a graça mesmo é ser surpreendido pela música que toca no rádio. Estilos misturados, cantores consagrados, cantores que recém surgiram na internet. Entre músicas de antigamente e músicas de amanhã a publicidade engraçada de serviços do interior.
Para que uma dúzia de ovos?
Para que uma melancia inteira?
Modernos supermercados que pensam nos que vivem alone, como é chic dizer.
Para que tanta pressa de chegar ao futuro se ele é agora e é assim?
Cheio de coisas que se pode comprar, pagar, ter, colecionar, trocar, mostrar e tão vazia de alguém pra simplesmente abraçar, conversar, rir ou apenas ficar calado olhando o sol se por.

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