quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Uma dúzia de anos


Hoje faz uma dúzia de anos que você se foi.
Eu queria que tivesse visto essa foto, te lembraria os velhos tempos da fazenda, ainda que esses homens não sejam aqueles tios, primos, irmãos, colonos.
Fazia parte da minha lição saber quantos cabiam em uma dúzia, em meia dúzia, você se lembra?
Somávamos juntos a caderneta do armazém e depois isso virou tarefa minha, assim como ir sozinha ao banco pagar a conta de água e de luz, para seu orgulho.
As coisas mudam tão rápido não é?
A última Copa que assistiu ficou com a França...
Em 2002 nós ganhamos e você não estava mais lá, no sofá, com uma bacia de pipoca.
Eu estava, acompanhada de uma menina que você não conheceu, porque ainda não tem uma dúzia de anos, tem apenas 11 e com um barrigão enorme que você teria adorado ver.
Desse barrigão saiu outra menininha, que dorme como você, de barriga para cima, fazendo o quatro com as perninhas.
Depois, em 2006, a nossa Itália foi quem levou a Copa e agora, em 2010, foi a Espanha. Eu torci pela fúria, já em abril/maio decidi que seria assim. Não imagina o que me atormentaram por isso, mas eu fiquei lá, dona de minha “taurinidade” e ganhamos. Foi a primeira fez que um país ganhou o Mundial tendo perdido o primeiro jogo. O primeiro título deles.
As meninas torceram pelo Brasil, as crianças precisam ser livres para aprender a escolher.
Fora os Mundiais muitas outras coisas aconteceram! Nossa família cresceu. Chegaram Gabriel, Maria Isabel, Felipe e agora, Isadora está a caminho.
Visitei muitos países, mas não recolhi mais nenhuma pedra para a sua coleção.
Doze anos. Hoje o dia está nublado, frio, a garoa cai com delicadeza.
Quando percorro as estradas no meu trajeto diário, lá está você, em cada sinalização, me perguntando: e essa placa? O que quer dizer?
E por que agora eu não posso ultrapassar esse carro? A resposta está no chão...
Seria cair no lugar comum dizer que tenho saudades então, todo dia eu invento uma história ou resgato uma em algum lugar da memória. Era assim que vivíamos, de histórias.
Conto para as minhas pequenas muitas vezes a mesma história, como você fazia comigo e o engraçado é que, como eu, elas também acham graça em cada repetição.
Ainda não contei para elas que, na escola da fazenda, você se sentava perto da janela para ficar de olho no alçapão e que uma vez pulou por ela para olhar o passarinho incauto que tinha sido apanhado. Talvez nesse final de semana.
Mas elas já sabem que viajávamos juntos e que você parava na beira da estrada para que eu pudesse recolher algumas flores de são joão, aquelas bem laranjas, que florescem por essa época do ano, para levar pra mamãe.
Uma dúzia de anos sem você. Suportáveis porque vive em mim pai e porque me ensinou que amor não tem tempo ou hora, não tem duração mesmo que um dos dois vá embora.

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