Minha mãe nasceu entre sítios e fazendas.
E cresceu em uma família amorosa que recolheu para si o infortúnio de um primogênito cego, de lindos olhos azuis e de uma caçula que partiu antes dos cinco anos levada por uma doença silenciosa. Pediu para ir a igreja e lá, no colo do pai, recostou a cabeça no ombro como quem adormece e não despertou mais.
Minha mãe foi alfabetizada, sabe ler e escrever, mas não tem nenhum diploma.
A não ser o que eu mesma lhe confiro: doutora em despertar em mim a paixão pelos livros e pela leitura.
Seus olhos verdes, ávidos de histórias que nunca pode parar para ler, alimentavam em mim deliciosas tardes. Algumas ensolaradas, outras de chuva torrencial.
Nessas tardes, minha mãe se sentava em seu quarto para costurar. Um vestidinho para minha irmã caçula, uma bermuda para o meu pai, um pijama de flanela de florzinhas para mim.
Minha irmãzinha brincava com os retalhos e eu, embalada pelo som do pedal da máquina, lia romances para ela. Meu Pé de Laranja Lima, Olhai os Lírios do Campo, Moreninha, Éramos Seis.
Em casa Éramos Sete.
Sempre seremos sete e cada vez mais multiplicados com os sobrinhos, os netos, os sobrinhos-neto/neta, que só nos solidifica e, a minha pequena grande mãe, é cada dia mais única no universo que me coube e que agora vejo nos livros e nas histórias que se acumulam no dia a dia das minhas pequenas. E eu adoro quando nos sentamos na cama e uma delas lê uma história para mim, mesmo que eu não saiba costurar para elas, pijamas de flanela.
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