sexta-feira, 16 de julho de 2010

O tempo custa

- Preciso de um tempo
- E vai fazer o que com ele?
- Sei lá, pensar
- Você não consegue pensar quando estou por perto?
- Conseguir eu consigo, mas não é isso que quero, quero um tempo, preciso de um tempo
- Tá bom... Eu gostava mesmo é de vender tempo para as pessoas
- Seria um bom negócio
- Ninguém mais tem tempo não é?
- Não, não tem
- As pessoas não vão ao médico porque não tem tempo
- Ah, mas muitas vão ao happy hour
- É, tem gente que levanta bem cedinho e faz ginástica, outro caminha, outro faz yoga
- E a minha vó que acorda as seis e não faz nada? Toma café e fica sentada na varanda, ou varre a calçada, qualquer coisa que seja vendo a rua, gosta de ver a vizinhança acordar
- Eu hein? Será que quando ficar vovó também ficarei sem sono?
- não sei, eu tenho um amigo, não sei como agüenta, acorda às 5h pra ir pra academia, trabalha o dia todo e vai pra facul à noite, dorme tarde pra caramba
- É, eu podia vender um tempo pra ele
- Meu chefe fala que as pessoas não têm tempo pra fazer um planejamento, um pensamento no projeto, mas tem tempo pra ficar refazendo a porcaria que apresentaram
- É bom isso e ele? É organizado com o tempo dele?
- Fica até tarde no escritório, acho que não agüenta chegar em casa e agüentar mulher reclamando, criança chorando, cachorro latindo...
- Outro cliente de tempo
- Quanto poderia custar?
- As pessoas é que sabem o quanto vale... Eu comprava uma meia hora por dia só pra ficar olhando pro céu e pensando em nada
- E quando chovesse?
- Eu olhava pra chuva
- E quanto você pagaria por essa meia hora?
- O que eu tivesse no bolso, dias mais, dias menos, dias nada, como hoje
- Vai cobrar pelo tempo que vai me dar?
- Bem caro...
- Quanto?
- Eu, eu nunca mais vou te querer de volta depois desse tempo

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