Aos treze anos a mãe decidiu que era hora dela aprender a cozinhar arroz.
Aprendeu.
Também era importante saber fazer a cama pela manhã como se estivesse em um hotel.
Aprendeu.
Muito importante saber pregar um botão em uma camisa, dar um pontinho em alguma roupa.
Aprendeu.
Nenhuma paixão por nenhuma dessas atividades, mas a mãe era tão generosa e dedicada que aprendia sem fazer muxoxos ou caretas, apenas aprendia.
Passar uma roupa. Importante estar sempre bem arrumada mesmo que fosse com uma camisetinha mais usada, se limpinha e bem passada já diz muito sobre a pessoa.
Concordava e aprendeu a passar a roupa.
Um dia recebeu a chave da porta da frente como sinal de confiança, de mocinha que já sabe a que horas deve voltar.
Um dia devolveu as chaves porque quando voltasse esperava que a mãe estivesse com a porta aberta, os braços abertos, os olhos bem abertos e o coração bem fechadinho de tantas saudades.
Partiu.
Por sua conta e risco e um monte de livros para devorar.
Não passou fome.
A cama nunca ficou desarrumada.
A roupa sempre tão alinhada.
Foi descobrindo outras coisas que talvez devesse ter apenas observado.
O leite acaba. A geladeira não se auto-abastece.
As verduras não se retiram da geladeira se não forem consumidas, apenas ficam murchas e pretas.
O lixinho do banheiro vai virando um monstro.
Pode amanhecer ensolarado, mas se a janela ficar aberta e a chuva vier...
Os copos se acumulam na pia sem nenhuma perspectiva de alcançarem sozinhos os armários.
Mas nada disso era um problema. Tudo foi sendo incorporado, solucionado, monitorado.
Tudo não, quase tudo.
Em noites frias, um segundo cobertor mais quente nunca surgiu como mágica para espantar – além do frio – os pesadelos.
Mães, de um jeito ou de outro, são assim.
E fazem falta na vida da gente.
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