quarta-feira, 25 de maio de 2011

Ruptura

Estendeu a mão e não viu mais a cicatriz.
Ela continuava lá. Mas ela não via mais.
O sorriso já não era tão esplendoroso, mas a cicatriz não doía mais.
E isso era mais importante que tudo.
Atrás do corredor a porta se fechara para sempre.
Qualquer passo deveria ser em sentido contrário, para frente.
Sem fotos, sem mágoas, sem pedaço de papel que precisa ser recuperado.
Nada mais.
Estendeu a mão uma vez mais e não viu a cicatriz.
O dedo traçou o desenho com a leveza de uma pena, mas não era mais que um relevo.
Sem nenhuma dor.
Aos poucos ia se livrar de tudo o que poderia arrastar essa história.
Uma cauda pesada, sem guizos, acumulando toda a poeira do corredor.
Um longo trajeto de alguns metros.
A cicatriz não a viu mais no momento seguinte em que ajeitou aquelas tralhas todas no porta-malas - entre espantado e admirado - do carro.

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