Ela tinha nome de princesa: Diana, mas era empregada doméstica.
Ele tinha nome de santo: Antonio, mas era porteiro de prédio.
Ele nunca bebia, mas naquele dia bebeu.
Bebeu porque a Diana lhe dava esperanças. Muitas esperanças.
E de repente o prédio inteiro começou a comentar e o boato se confirmou: a Diana ia se casar com o seu Otávio do nono andar. Um homem esquisito, um homem sozinho, que não recebia visitas, que era sistemático, um homem de poucas palavras.
Um homem que podia até ser um desses homens que matam gente sem razão.
E bebeu. Naquele dia o Antonio bebeu muito e preparou-se para pedir as contas.
Não poderia mais trabalhar no mesmo prédio em que a Diana, antes tão cheia de graça, ia ser a dona de um dos apartamentos do nono andar.
Bebeu muito e pensou em vingança.
Pensou em fazer uma lista com todas as verdades sobre os moradores do prédio e fixar no elevador.
Como vingança queria dizer o que realmente pensava sobre cada um deles, como se fosse seu último dia de vida e ele tivesse direito de dizer o que achava bem lá no fundo.
Que dona Bianca era feia mesmo com tantas plásticas e silicones.
Que seu Donato vivia mesmo era da caridade dos filhos e que era um pé rapado que devia conta de luz, de condomínio, sempre socorrido por um dos filhos que nem lhe visitavam.
Que a poodle da dona Eliana era a cachorrinha mais chata que ele já conhecera. Igual a dona.
Que as crianças do seu Jorge eram mal educadas, mal amadas, magras e sem futuro.
Mas estava bêbado.
E isso que ele listou lá ia ofender alguém?
Ele era praticamente invisível e essas baboseiras não iam mudar a vida de ninguém. Muito menos a dele, agora ainda pior sem a Diana.
Que tonto ele era, isso sim.
Estava bêbado, mas lúcido o suficiente pra ir pra casa, dormir, curar a ressaca e o mal estar porque no dia seguinte não poderia se atrasar.
Não poderia mais trabalhar no mesmo prédio da dona Diana, mas precisava achar outro emprego antes de se abalar.
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