Embarcou.
Não tinha outra coisa a fazer.
Nenhum passado e nenhum futuro, só um presente sem graça.
Aprendeu mais tarde que fé é diferente de esperança.
Explicaram que esperança é uma espécie de expectativa... De acho que vai acontecer, de quero que aconteça, mas que um certo medo já prepara para o não deu certo.
Fé não. Fé é sem medo.
Fé é certeza absoluta e mesmo quando a coisa não dá a pessoa ainda fica achando que não é definitivo e que ainda pode acontecer.
A viagem durou tanto tempo que foi capaz de achar uma explicação para “a fé move montanhas”.
Move nada. A pessoa é que caminha até a montanha porque tem tanta certeza de que vai chegar lá que caminha sem perceber e daí fica achando que a montanha se moveu.
Mas não deu tempo de encontrar uma explicação para quando se usa isso para dizer que uma montanha igual à coisa ruim saiu da frente.
Se eu pudesse ajudar diria que o raciocínio é o mesmo, só que a pessoa vai em direção contrária à montanha e assim parece que ela saiu da frente.
Simples assim.
Não, não é simples não é?
Mas ela embarcou longe de mim, desceu mais longe ainda e seguiu sem caminho entre crente e descrente.
Entre alegria e tristeza.
Entre amores e desamores.
Como toda gente.
Só que uns disfarçam melhor do que outros.
Ela não tem outra coisa a fazer, a não ser lidar com um presente sem graça.
Por isso não vou embarcar.
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