quarta-feira, 18 de março de 2009

A Espera

É o nome de um livro de Ha Jin, belíssimo para mim.
Convivemos com a espera.
Bebês, esperamos pelo leite que surge não se sabe bem de onde, de seio farto, quente, com cheiro de mãe. De mamadeiras esterilizadas enfeitadas com um leão que não hesitaria em nos amedrontar.

A espera pelo triciclo.
A espera pelo primeiro dia de aula.
Meu irmão sentado em um degrau chorava cântaros sem dizer porque.
Carinhosamente indagado por minha mãe resolveu aliviar sua dor:
- mas mãe, o que eu vou fazer na escola se eu não sei ler nem escrever? não vê que as meninas têm lições todo dia e é sempre de ler e escrever!

A espera pelo papai noel, pelo coelho da páscoa, pela viagem de férias.
A espera pelo primeiro passeio de trem, de barco, de avião, de carro novo.
A espera pela manga madura.
Pelo vento que carrega a pipa.
A espera pelo primeiro beijo, pela primeira espinha, primeiro trago, cigarro, medo.

A espera pelo toque da campainha.
Ah... testemunha de Jeová!
Quero alguém que testemunhe a minha espera imperial.
No perderle la cara al toro. Como dizem os espanhóis.
Minha espera impávida.
Minha espera pelo som do telefone.
Martín habla.
Sí, pero con quien quieres hablar?
Será possível que até em minhas chamadas de engano!
A espera de um sinal.
De fumaça? De chuva? De que as águas de março lavam mesmo tudo?
Celular.
Alô mãe meu dever de casa é uma pesquisa sobre Elvis.
Presley?
Só consigo atinar que seja porque é um dos mortos que mais faturam, será que foi afetado pela crise?
Porque Elvis se não sabe ainda quem é Chico.
Nenhum deles, Buarque, Cesar e tantos outros que permitiram o codinome para nome tão bonito.
A espera não tem fim. É uma ponte que vai e volta e se reinventa mesmo para aqueles que desistem.
Eu ainda espero.

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