sexta-feira, 20 de março de 2009

Helena

Helena de Tróia, a mulher mais bela do mundo.
Helenas de Manoel Carlos vividas pelas atrizes mais populares de uma televisão que mais parece um membro da família.
Helenas de nossas vidas.
Quantas Helenas conhecemos, quantas amamos, quantas passam por nossas vidas e nem sabemos seus nomes?
São mulheres que sobem a escada rolante enquanto descemos.
Que sentam-se ao nosso lado na ponte aérea.
São mulheres que frequentam a fila do supermercado, da padaria.
São Helenas que levam os filhos ao parque. Os seus e muitas vezes os das patroas.
São elásticas personagens de desenhos animados.
São todas lindas as Helenas.
Eu tenho Helenas especiais.
A que tem meu sangue correndo em suas veias a mais tempo do que eu e que carrega seu Helena escondidinho entre seu nome e sobrenome e que surpreende pelo seu profundo olhar azul.
Eu tenho amiga Helena. Tão querida e tão mais perto agora que está longe do convívio diário. É a matrona mais desencaixada do conceito que eu conheço e por isso não a perco de vista.
São lindas todas as Helenas.
A caçula de uma amiga, olhos curiosos moldados pelo loiro do cabelo de anjo. Bochecha rosada que nunca apertei.

A Helena mais antiga da minha vida já se foi.
Por isso até eu nunca mais comerei o melhor bolo de milho do mundo. Que mulheres de toda a família (menos eu!) reproduziram a receita tentando me agradar mas jamais chegaram ao resultado da minha lembrança degustativa.

Tia Helena que costurava shorts com retalhos de suas costuras. Para quem costurava?
Tia Helena que nunca desistiu daquele relógio cuco que me metia medo quando abria sua caverna misteriosa. Casa silenciosa. Medo da morte.
Tia Helena que me deixava subir na cerca para apanhar ameixas que eu nem comia de tão azedas.

Tia Helena que passou a juventude lavando seu rosto de sardas com a água que se lavava o arroz, sonhando com uma pele de porcelana.
Tia Helena que teve batons e pó de arroz roubados de sua penteadeira pelo macaco que andava pelos galhos da fazenda.
Macaco que pintado lhe fazia caretas já no alto da árvore.
Histórias da fazenda, das bem antigas, que nem previam minha chegada muitos e muitos anos depois.

Helenas de todo mundo.
Helena de Tróia, a mulher mais bela do mundo, habita os olhos de uma, a leveza de outra, um desatino que se autocompleta.

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