terça-feira, 24 de março de 2009

Invisíveis

No supermercado vejo uma modelo.
Muito alta, muito magra, muito loira e dança com as pernas num caminhar que não aprendi.
Todos a olham e ela sabe disso aprimorando sua dança.
Mas ela não é mais bonita do que a menina que minutos depois faz a minha unha.
Ela não exibe seus olhos azuis petróleo porque precisa manter a cabeça baixa em sua concentração.
Seu cabelo negro preso com displicência não ganha carinho de escovas e produtos importados.
Mas ela é linda.
O sorriso quando comenta alguma coisa e quando agradece ajudaria a vender qualquer produto, de creme dental a uma viagem a Paris.
Mas ela é invisível em seu caminho de casa até o ponto de ônibus, do metrô até o salão de beleza, do balcão de fast food até a lojinha mais próxima, experimentar uma sandalhinha que está em promoção.
Ela passa e não vê que está rodeada de invisíveis.
O moço do táxi.
O entregador de pizza.
O varredor de rua.
A moça do café.
O porteiro.
O segurança do prédio.
Não, eles não tem os olhos azuis e as feições delicadas, mas para quê?
Parada, esperando, em muitas situações, conto nos dedos de uma única mão quantas pessoas são capazes de um sorriso, de um bom dia, de um como vai? de um obrigada, de um por favor.
São invisíveis.
Só se destacam da paisagem coloridos por nossa fúria quando algo dá errado e neles queremos descontar toda a nossa frustração.
Nesses momentos não há mãos e pés que cheguem para contar quantos de nós usamos de impropérios e todo tipo de palavras descabíveis.
Invisíveis em seu (quase nosso) colorido destino.

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