Elas decidiam passar alguns dias na fazenda, com meu avô Augusto, e não sei com que argumentos eu conseguia me inserir no grupo e sempre, mas sempre ia junto.
Para desespero delas e imagino que para alívio de minha mãe.
Elas sempre pretendiam chegar de surpresa, fazer festa. Eu estragava tudo.
Íamos de ônibus de Tupã até depois de Marília, depois de Garça, descíamos na estrada, em um lugar conhecido como "as cruzinhas".
Em referência a algumas delas que lá estavam porque alguém terminou seu caminho por ali.
Elas carregavam toda a bagagem. A delas, a minha, incluindo meus brinquedos, para os quais eu nem olhava um dia sequer.
E me imploravam:
- não vai correr, não vai na frente, não vai fugir, não vai...
Eu dizia:
- vou correr só até a calça comprida e espero lá, sentada
Elas se entreolhavam. Filme tantas vezes visto.
A calça comprida era um tronco em forma de forquilha (um ramo de árvore ou arbusto que se bifurca com o formato da letra Y), cortada há muito tempo e que ficava na beira da estradinha de terra.
E eu realmente corria até lá e esperava sentada. Mas quando faltavam passos para me alcançarem, eu dava uma arrancada final e só as revia já sentada no colo do meu avô, tomando um suco qualquer, e sendo chamada de Moleca.
- a Moleca chegou, a Moleca está aqui, ai que saudades da minha Moleca
Protegida de qualquer bronca eu não encarava olhos azuis como os de meu pai da mais velha, olhos verdes da mais nova, herdados de minha mãe.
Abaixava os meus olhos cor de burro quando foge e ia assombrar o resto do pessoal.
Coisas que eu não devia, mas fazia:
- Jogava uma espiga de milho para porcos que brigavam por ela. Os mais gordos só gemiam, nem conseguiam chegar perto.
- Montava o cavalo mais próximo sem sela para desespero dos tratadores
- Escorregava pelas sacas de café com a máquina ligada, correndo risco de ser ensacada também
- O portão da casa principal era uma roleta de madeira, um verdadeiro parque de diversão: girava montada nele, com uma mão, com um pé pro alto, amarrada pela cintura com uma corda
- Jogava um punhado de milho para as galinhas no terreiro mas pulava na frente delas e o jogo era não deixar nenhuma delas bicar um grão (eu sempre perdia)
E quando meu avô, sábado a tarde, cochilava em frente a TV, passando rápido parei para ver alguém cantando a música: eu quero é botar, meu bloco na rua...
Era um programa de calouros, mas eu não sabia, não assistia TV e passei anos acreditando que o cantor de tão famosa música não tinha um dente da frente.
Um dia, em uma conversa qualquer isso se esclareceu, com minhas doces irmãs mais velhas, que de uma forma ou de outra, riram muito, sentindo-se mais ou menos vingadas!
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