Ontem o Palmeiras jogou com o Corinthians lá em Presidente Prudente. Mas isso é só um detalhe. Um detalhe que me faz lembrar detalhadamente de meu pai.
Foi lá em Presidente Prudente que eu o vi pela última vez, em um leito de hospital, fragilizado, mas com aqueles olhos azuis, que não herdei, vivos como nunca.
Falamos de revistas, de joão de barro, um passarinho mais do que curioso, vimos juntos a foto de um que fez um verdadeiro edifício, três casas, uma em cima da outra, será que era polígamo, megalomaníaco, perfeccionista? Ficamos sem resposta.
Falamos de pedra. Eu tinha recolhido algumas para ele, que adorava e colecionava, da Pedra do Baú, mas não cheguei a entregar.
O futebol nos unia. Ou era uma desculpa para estarmos mais tempo juntos.
A pipoca.
O sorvete de milho verde.
As contas. Anotações e mais anotações em caderneta. Valores de combustível, de açougue, de conta de luz e água.
Desenhar.
Ele se divertia contando que em um exame de psicotécnico lhe pediram para desenhar um homem e uma árvore.
Fez só a árvore. Questionado respondeu:
O homem está atrás da árvore! Mas sem pestanejar desenhou dois homens, um com cada uma das mãos, enquanto sorria.
Era ambidestro. Também não herdei essa maravilha.
A perspicácia sim.
E o assovio. Ou assobio como preferem outros.
Quando ele chegava, já do portão assobiava um ritmo que é uma pena que eu não tenha como reproduzir em palavras. Mas talvez seja melhor, assim continua sendo só nosso.
E eu respondia imediatamente.
Quando eu não o fazia automaticamente ele perguntava ao primeiro que encontrava:
- onde está a Lusiinha?
Quando não, ao escutá-lo minha mãe já se adiantava... A Lusiinha foi...
Quando me mudei para São Paulo ele chorou. E disse à minha mãe que nunca mais chegaria assobiando e cumpriu a promessa e então fui eu quem chorou.
O jogo ficou empatado: 1 x 1.
Mas isso é só um detalhe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.