quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

1989 – O carnaval em que não morri

Em 10 de dezembro 1988 eu perdi tragicamente um grande amigo. De estudos, de dança, de baladas, de textos escritos, de cartas, de um futuro que nunca chegou.
Em 1989, tudo era a primeira vez sem ele desde muitos anos. No carnaval, alguns amigos me disseram:
- Lu, se não vai para o interior, na casa dos seus pais, tem que vir com a gente para a casa do Carlos, na praia. Vai ser legal, você vai ver, conhecer gente nova, tomar sol, vai se divertir!
Carlos era um novo amigo, conhecido há não muito tempo e que estava de namorico com uma das garotas do grupo. Eu não tinha vontade de ir, mas fiquei de pensar.
Noites depois tive um sonho com meu amigo que se fora em dezembro.
Simples. Calmo. Real. Eu estava dormindo e ele se ajoelhou na beira da minha cama, segurou a minha mão e disse baixinho:
- Lu, quando chegar o verão, você vai virar verão como eu
Acordei pensando em ter tempo de vê-lo, de perguntar o que aquilo queria dizer, mas era um sonho. Só um sonho. Mas um sonho que não deixou de me perturbar e fiquei pensando que o verão poderia significar carnaval e que virar verão como ele poderia significar morrer e por isso decidi não ir à praia. Decidi não ir a lugar algum.
Não contei a ninguém sobre o sonho, apenas avisei que não ia, que ia arrumar meus livros, meus armários, ir ao cinema...
E foi o que fiz. Naquele carnaval fiz muitos passeios com quem hoje é meu amor, mas é uma história linda que merece uma história inteira.
Voltando de uma chuvarada no parque, completamente encharcada, percebi uma movimentação diferente em casa. O carro do pessoal que tinha ido à praia estacionado ali denunciava que algo não estava bem.
- Lu, me disse uma das amigas quando entrei, houve um acidente. O Carlos saiu de moto de manhã para comprar pães e não se sabe como bateu violentamente em um poste e morreu.
Fiquei atordoada. Tomei um banho, preparei-me para todo o ritual que me esperava e, não disse nada a ninguém e nunca ninguém poderá me responder, mas... estaria eu na garupa daquela moto?

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