Quando tudo ia mal e todos brigavam, não havia onde se esconder.
O pai que bebia além da conta, as contas que passavam da conta.
Um jeito difícil de viver.
Nesses momentos, saia de casa sozinha e percorria um longo caminho por ruas de asfalto empoeirado.
O sol transformando a paisagem em reflexo de água, primeiras imagens de um ilusionismo que nunca aprendeu.
Casas grandes de bairro nobre enclausuradas em suas grades. Se briga houvesse por ali devia ser em sussurros de quartos fechados protegidos dos pobres.
Por ali risco nenhum de encontrar amigos de escola, vizinhos, parentes.
Escondida na imensidão de uma cidade pequena ia ao cemitério.
Lá, perto do cruzeiro, podia chorar sem vergonha, sem razão, sem explicação. E chorava todas as suas mágoas e pedia por sua família.
Um ou outro podia apiedar-se, pensar certamente que menina tão nova devia chorar a mãe perdida. Mas ninguém a abordava e por isso sentia-se protegida em sua solidão.
Depois de chorar tudo, enxugava os olhos, descansava um pouco e fazia o trajeto de volta.
Confortada pela ideia de que a mãe já estaria lavando a louça do almoço, o pai já estaria tirando um cochilo, um e outro vendo tv, uma manga madura caída no quintal... tudo de novo normal. Vida pequena.
Antonia, por onde andarás?
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