O restaurante está cheio na medida exata. Nem tumultuado, nem vazio, nos dando aquela sensação de que não escolhemos o melhor deles.
As meninas tem muitos assuntos.
A bebida é boa. A companhia é boa. A comida é boa.
Porque tenho que perceber coisas que a ninguém mais importa?
Alguns garçons são bastante jovens.
Fico pensando que em uma noite de sábado como essa eles deveriam estar se divertindo e não trabalhando.
Mas não cabe a mim decidir isso.
Dois deles são tão parecidos que até agora tenho dúvidas de que não fossem gêmeos.
Negros. Quase negros, daquela cor que as pessoas não sabem classificar por pudor, por medo de parecer politicamente incorreto e que minha filha já traduziu muito bem certa feita: eu tenho um amigo marrom que...
Mas um deles não estava em seu melhor dia.
Não nos atendia, mas o vi sendo chamado atenção. Vi olhares entre superiores e subordinados.
Vi seus passos traçarem caminhos desequilibrados pelo salão.
Vi que não soube responder a pergunta do cliente. Vi que passou rápido pelo superior e o vi suspirar para não deixar a raiva piorar a situação.
Cabelo bem curto no alto da cabeça.
Quantos anos tem? Tive vontade de perguntar.
Ninguém no salão pareceu notar as entrelinhas.
Um bastidor transformado em palco em um espetáculo angustiante que só eu assistia.
Tentei comentar com meu par. A conversa não progrediu.
- mãe não gostei do suco, quero água
- alguma sobremesa?
Para casa.
Tudo tão resolvido.
Um drama sem final para mim, mas e para ele? É o começo de uma vida que promete porque calcada em trabalho, em responsabilidade? Ou é o começo da frustração estampada em um pacote que acomoda sobras para a viagem?
Boa noite. Voltem sempre.
Obrigada!
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