quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Causos

O meu pai contava que, quando ele era menino, lá pelos seus treze, quatorze anos, ia pescar com meu avô, o seu Augusto.
Nem tanto porque gostasse de pescar, mas porque gostava da companhia do pai. Mesmo a pesca sendo uma atividade silenciosa, estar perto é estar perto.
Caminhavam pela fazenda, depois pegavam uma estradinha, que a mim me parece mais um caminho e chegavam ao rio.
Nessa estradinha/caminho havia uma casa, habitada, sempre de janelas e portas abertas, um cachorro aqui, onde nunca se via ninguém. Simples, muito simples, mas arrumadinha.
Sempre passavam por ela.
Um dia, lá iam meu avô, meu pai e um dos irmãos dele para mais um dia de pescaria.
Ao passarem pela casa, viram a mesa coberta com um lençol branco, um silêncio, flores frescas em um bonito vaso no qual nunca tinham reparado.
Estranharam não haver ali ninguém, mas imaginaram que pudessem estar a caminho da cidade, das fazendas vizinhas, a anunciar tal tristeza.
Não entraram, mas parados na porta tiraram os chapéus e fizeram uma oração.
Depois seguiram caminho. Meu tio mais tagarela do que normalmente a dupla avô e pai.
Final do dia, de volta da pescaria, qual não foi a surpresa ao passarem pela mesma porta aberta!
O lençol estava amontoado a um canto da mesa e uma mulher cantarolava experimentando sua nova preciosidade: uma máquina de costura a mão!
Pois é, eles rezaram para uma máquina de costura, uma relíquia, exposta no lugar de maior prestígio da casa: a sala, coberta das impurezas da estrada pelo melhor lençol!
O tagarela riu muito, meu pai o seguiu e juntos desfizeram a carranca que vô Augusto tinha desenhado!

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