Tudo começou às 07h39.
O meu celular tocou e eu já desperta atendi sem saber bem o que esperar.
Pensei: será que algum amigo está vendo um lindo raiar de sol lá no nordeste e quer me contar?
Não.
Será que algum amigo perdeu documentos, cartões de crédito e precisa de uma ajuda?
Não.
- Alô...
- Olhe quero falar com o Lucas! Disse uma voz de menina com sotaque bem carregado.
- Você deve ter se enganado com o número, aqui não tem nenhum Lucas!
O prefixo era 087 e o número do telefone começava com 9641.
Às 12h17 o mesmo código e o mesmo telefone chamou novamente.
Em reunião, apenas desliguei. Mas tinha a intenção de explicar mais uma vez.
Esqueci.
Às 18h55 o mesmo prefixo, mas agora outro começo de número – 9614 – chamou outra vez.
- Quero falar com Lucas, cadê Lucas?
Pacientemente perguntei que número ela estava chamando.
Repetiu meu número sem tirar nem por.
Pacientemente expliquei que esse número era meu celular pessoal e intransferível há mais de dez anos e que nele não havia nenhum Lucas.
Ela falava comigo e explicava alguma coisa para alguém.
18h57 chamou novamente. Apenas desliguei.
Às 19h07 o mesmo código 087, mas um terceiro número de celular – 9901 chamou.
Atendi.
A voz de menina, aflita, continuou a chamar pelo Lucas e uma voz de homem disparou a falar comigo ao mesmo tempo:
- É o Lucas, o Lucas preto! Não sei se referindo-se à sua cor ou ao seu sobrenome.
Eu, para aliviar a tensão respondi:
- Não, aqui não tem nenhum Lucas preto, tem um Lucas aqui ao meu lado, mas ele é bem branquinho.
Referia-me a um colega de trabalho, recém chegado na agência, com quem eu já tinha brincado dizendo que ele dera meu número lá pelo nordeste afora.
Pra quê! A menina disparou:
- Chame ele, posso falar com ele?
Mal pude acreditar, mas já que fiz a brincadeira, tinha que consertar...
- Não, não pode, claro que não, ele apenas trabalha comigo, nem sabe o número do meu celular, você quer falar com qualquer um que se chame Lucas?
No desespero ela passou o telefone para a voz masculina e eu expliquei mais uma vez que esse número está comigo há mais de dez anos, que estou em São Paulo, que não conheço esse Lucas que procuram e ele foi se acalmando, desculpou-se e desde então não recebi mais nenhuma chamada.
Ah Lucas preto, o que foi que você aprontou lá em Santa Terezinha, no Pernambuco?
Foi um amor de carnaval com a menina aflita de pai bravo?
Foi uma compra que ficou pendurada na lojinha da vendedora aflita de patrão nervoso?
Ou você é o filho pródigo que não quer voltar?
Talvez eu nunca saiba, mas saiba você Lucas, que lá em Santa Terezinha tem gente nervosa atrás de você!
História muito boa. Poderia até ser inventada, mas o interessante é que aconteceu mesmo.
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