quarta-feira, 30 de março de 2011

Chamada Perdida

Tudo começou às 07h39.
O meu celular tocou e eu já desperta atendi sem saber bem o que esperar.
Pensei: será que algum amigo está vendo um lindo raiar de sol lá no nordeste e quer me contar?
Não.
Será que algum amigo perdeu documentos, cartões de crédito e precisa de uma ajuda?
Não.
- Alô...
- Olhe quero falar com o Lucas! Disse uma voz de menina com sotaque bem carregado.
- Você deve ter se enganado com o número, aqui não tem nenhum Lucas!

O prefixo era 087 e o número do telefone começava com 9641.

Às 12h17 o mesmo código e o mesmo telefone chamou novamente.
Em reunião, apenas desliguei. Mas tinha a intenção de explicar mais uma vez.
Esqueci.

Às 18h55 o mesmo prefixo, mas agora outro começo de número – 9614 – chamou outra vez.
- Quero falar com Lucas, cadê Lucas?
Pacientemente perguntei que número ela estava chamando.
Repetiu meu número sem tirar nem por.
Pacientemente expliquei que esse número era meu celular pessoal e intransferível há mais de dez anos e que nele não havia nenhum Lucas.
Ela falava comigo e explicava alguma coisa para alguém.

18h57 chamou novamente. Apenas desliguei.

Às 19h07 o mesmo código 087, mas um terceiro número de celular – 9901 chamou.
Atendi.
A voz de menina, aflita, continuou a chamar pelo Lucas e uma voz de homem disparou a falar comigo ao mesmo tempo:
- É o Lucas, o Lucas preto! Não sei se referindo-se à sua cor ou ao seu sobrenome.
Eu, para aliviar a tensão respondi:
- Não, aqui não tem nenhum Lucas preto, tem um Lucas aqui ao meu lado, mas ele é bem branquinho.
Referia-me a um colega de trabalho, recém chegado na agência, com quem eu já tinha brincado dizendo que ele dera meu número lá pelo nordeste afora.
Pra quê! A menina disparou:
- Chame ele, posso falar com ele?
Mal pude acreditar, mas já que fiz a brincadeira, tinha que consertar...
- Não, não pode, claro que não, ele apenas trabalha comigo, nem sabe o número do meu celular, você quer falar com qualquer um que se chame Lucas?
No desespero ela passou o telefone para a voz masculina e eu expliquei mais uma vez que esse número está comigo há mais de dez anos, que estou em São Paulo, que não conheço esse Lucas que procuram e ele foi se acalmando, desculpou-se e desde então não recebi mais nenhuma chamada.
Ah Lucas preto, o que foi que você aprontou lá em Santa Terezinha, no Pernambuco?
Foi um amor de carnaval com a menina aflita de pai bravo?
Foi uma compra que ficou pendurada na lojinha da vendedora aflita de patrão nervoso?
Ou você é o filho pródigo que não quer voltar?
Talvez eu nunca saiba, mas saiba você Lucas, que lá em Santa Terezinha tem gente nervosa atrás de você!

Um comentário:

  1. História muito boa. Poderia até ser inventada, mas o interessante é que aconteceu mesmo.

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