quinta-feira, 31 de março de 2011

Um Thiago ou um Danilo ou um Pedro

Não tinha nenhuma causa para defender, mas era contra tudo.
Gostava do violão, tocava um pouco de ouvido, mas não tinha paciência para as partituras.
Arrastava-se até a escola, na esperança de passar rapidamente porque ouvira dizer que na faculdade era mais sossegado.
Tinha gente que até fumava na sala de aula.
Ele não fumava, mas devia ser legal.
Agora não devia poder mais, não se pode mais fumar em lugar nenhum.
Ainda gostava do pai e da mãe, mas não era mais como quando era pequeno que não queria desgrudar da mãe.
Jantava com eles às vezes, mas não tinha muito assunto.
O pai tinha uma preocupação muito preocupante com essa história de escolher logo alguma coisa pra fazer.
Na escola, um monte de gente dizia que ia fazer Administração porque depois você pode escolher qualquer coisa e aí faz uma especialização.
Não a turma da Duda. Ah, não. Aquela turma já sabia de cor e salteado o que cada um ia ser e em que facul ia entrar e em quantos anos ia terminar e que pós, que doutorado, que tese, que país de intercâmbio, ficava cansado só de pensar.
Não tinha nenhuma causa para defender, mas se preocupava com o meio ambiente, tomava banho rápido, não deixava as luzes acesas.
Andava de bicicleta, separava o lixo.
Será que daria pra ganhar dinheiro trabalhando só com isso? Com essa coisa sustentável?
Aí, nesse ponto era a favor de tudo.
Nisso sim daria pra pensar, mas não agora, estava cansado e só queria ficar deitado, ouvindo um pouco de música.

Um comentário:

  1. "O pai tinha uma preocupação muito preocupante...". Escrever assim é para pouco. Apenas aqueles que dominam a língua - ou pelo menos se esforçam para tanto - podem escrever com essa desenvoltura. Texto leve e gostoso de ler.

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