Hoje eu andei de metrô.
E eu não ando todo dia porque meu trajeto não permite.
E por isso há anos eu não fazia isso.
Excetuando um dia do ano passado em que levei as meninas para descobrir essa novidade.
A minha reunião era importante, mas o fato de reencontrar o Metrô... que sensação!
E a sensação de hoje foi a de uma criança descobrindo um jeito novo de ir e vir.
A sensação de uma caipira (que sou) e que fica observando antes de fazer igual.
Fila para comprar bilhete.
Corredor certo para o sentido certo.
E pensar que essa minhoca de aço fez parte da minha vida em meus primeiros anos de São Paulo.
Que privilégio era morar na Vila Mariana, tão perto da Estação de Metrô.
Ele cresceu. Nem em sonho o que deveria, o que poderia, o que melhoraria, mas para os trajetos que eu fazia, oh céus como cresceu!
Tinha me esquecido do vento forte que faz quando o trem se aproxima.
E de como eu gostava de ver a cara do condutor.
E de como eu costumava treinar meu equilíbrio fazendo de conta que segurava na barra.
E de como eu me sentia em Londres usando um lenço que protegeria os ouvidos do vento quando a escada rolante me levava ao infinito e além, do subterrâneo para a superfície em tardes geladas de junho.
E como se tudo isso não bastasse, minha alma foi abastecida de poesia! Nos corredores da Estação Vila Madalena encontrei, na ida, Sá de Miranda, Cantiga
Comigo me desavim,
No extremo som do perigo;
Não posso aturar comigo
Nem posso fugir de mim.
Com dor da gente fugia
Antes que esta assi crecesse;
Agora já fugiria
De mim se de mim pudesse
Que meo espero ou que fim
Do vão trabalho que sigo
Se trago a mim comigo
Tamanho imigo de mim?
E na volta... um trecho de Tabacaria, de Álvaro de Campos, mal pude acreditar!
...
Fiz de mim o que não soube,
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
...
Entreguei meu passado ao meu futuro em uma viagem de Metrô!
comentário 1: não me permito verter lágrimas, pois estou em local impróprio, mas deu um nó na garganta quando li este trecho de Álvaro de Campos. Parecia que falava de mim.
ResponderExcluircomentário 2: "A sensação de uma caipira (que sou) e que fica observando antes de fazer igual." Não sou caipira, mas também fico observando os outros pra fazer igual. Quem sabe um dia, eu possa escrever igual a autora deste blog.
comentário 3: "ao infinito e além" Buzz Lightyear pode voar, eu também, quando passeio por este blog.