quinta-feira, 10 de março de 2011

Espetáculo

Ontem quando entrei na rodovia, no caminho meu de todo dia, eu a vi de relance por trás do véu.
Em sua pose mais sensual.
Não pude deixar de espiar.
Atrevida.
Insinuante.
Pensei que estivesse se recolhendo, mas de repente, ela surpreendeu-me sem o véu.
Entregue.
Não pude impedir a expressão de espanto, a boca aberta de admiração.
De brilho intenso mas sem ofuscar ficou brincando comigo de esconde-esconde nos véus de nuvens claras, esparramadas em seu descanso de começo de noite.
Quase escondida à minha esquerda, de repente inteira na minha frente. Crescente.
Quis fotografar.
Não pude.
Cercada de ônibus, carros e caminhões, um mínimo gesto poderia ser fatal.
Senti-me como um marinheiro ouvindo o canto da sereia.
Desliguei o rádio, até porque meu time estava perdendo.
Com atenção redobrada, espiava pelo canto do olho suas aparições.
Pensei em parar no acostamento e fotografar.
Mas uma foto de celular não faria jus ao espetáculo ensaiado fielmente, mas que no momento da apresentação permite improvisações!
Quase me convenci de que quem tem memória no coração não precisa de foto e que eu seria capaz de fechar os olhos e vê-la para sempre.
Quase na reta final arrisquei.
Ela não se deixou prender.
Não deixou que eu capturasse sua alma e borrou todas as luzes em movimento.
Mas reinou acima de tudo. Talvez irritada com minha ousadia.
Não foi a primeira vez que me subtraiu.
Não será a última.
Talvez hoje quando entrar na rodovia, no caminho meu de todo dia, ela esteja lá, indiferente em seu papel de Lua e nada mais.

Um comentário:

  1. Se Platão estivesse vivo ficaria arrebatado com tais palavras. Um sentimento elevado de uma musa moderna. Não podemos ouvir o canto da sereia, mas certamente somos enfeitiçados pela visão de tal poesia.

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