quarta-feira, 16 de março de 2011

Outro olhar

Quando caiu em si o abismo era senão uma rachadura no solo.
O sol não estava a pino, o que ardia os olhos era o fato de ter ficado tanto tempo no escuro.
A ventania era senão uma brisa. Não para derrubar árvores inteiras, mas apenas as folhinhas secas preguiçosas de se desprenderem.
Quando caiu em si a vida corria seu curso sem dó nem piedade.
Sem arrastar ou empurrar ninguém.
A chuva não era para assustar, apenas para varrer a poeira do asfalto da rua esquecida no bairro.
Portões fechados, apenas para os cães não fugirem, nunca para impedir as visitas.
Quando caiu em si era mais fácil ser alegre que ser triste, como dizia mais ou menos a canção.
Divertido fazer uma foto nova, emocionante compará-la com uma foto antiga.
Cartas que não se escrevem mais.
Quando caiu em si viu a sombra de seus ombros arqueados e não gostou do quadro.
É sempre tempo de dar uma nova pincelada e desenhar no horizonte uma bolinha amarela, que se não for o sol, pode ser o miolo de uma margarida.

2 comentários:

  1. Os sofisticados que me perdoem mas simplicidade é fundamental.

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  2. A matemática da poesia é assim: quando o menos é mais, multiplicando as emoções e dividindo os bons dos ruins. A beleza de um bom texto contraria a lógica exata de palavras vazias.

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