Diz a lenda que cresceu brincando em quintal de terra com pedrinhas e folhas secas.
Ele não. Em berço finamente decorado, com enfermeira auxiliando a mamãe e brinquedos esterilizados.
Quase mesma idade e tudo tão diferente. Cidade, céu, pai e mãe, cultura, religião. Religião?
Não, a religião nunca foi mencionada.
Escola pública e escola privada. Palavra mal empregada, sempre a desviar o pensamento erudito para o pensamento vulgar.
Mas, diz a lenda que saia-se muito bem de todas as confusões em que se metia e que não eram poucas.
Ele não. Sempre assessorado, sempre ajudado, sempre o biquinho de quem vai chorar.
Tempos tão parecidos de quadrinhos quadrados, de bolas redondas, de carrinhos e de bonecas.
Diz a lenda que adorava ler e lia até bula de remédio para usar as palavras esquisitas como se fossem xingamentos, já que a mãe, apesar de ocupada, estava sempre de ouvidos abertos a toda e qualquer má palavra. Ainda que contra a bula não tinha remédio!
Ele não. Ele já se dedicava a aprender outros idiomas.
E, entre tantos caminhos a serem seguidos quis o traçado das paralelas que se encontrassem um dia. Não para uma história de amor. Apenas se souberam.
Encontraram-se, conviveram por um tempo, passaram a limpo as diferenças e seguiram seus caminhos.
Diz a lenda que segue brincando em quintais de terra, com pedrinhas e folhas secas.
Ele não. Ele continua contido em seu espaço de bem nascido e até poderia colecionar pedrinhas da Grécia, mas isso já não é importante. Não há mais para quem mostrar.
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