segunda-feira, 27 de abril de 2009

Já morei em tanta casa que nem me lembro mais

Cantou Renato Russo com a sua legião urbana.
Eu também já morei em muitas casas, com a diferença de que me lembro de quase todas elas.
Seus detalhes, suas histórias boas e ruins. E, já que estamos em véspera de começar um novo ano, vamos fazer um balanço.

Nasci em um endereço em Osvaldo Cruz, já contei essa história aqui.
Dessa casa eu não me lembro, mas conta minha mãe que em determinado momento houve uma verdadeira invação de formigas e ela, criativamente, colocou os quatro pés do meu berço em forminhas de alumínio com água.
Depois, ainda em Osvaldo Cruz, morei em outra casa, com varanda e uma árvore que dava flores cor-de-rosa no jardim. Lá tive o meu primeiro amigo, que já se foi, com quem eu brincava de riscar fósforos, de caixinhas surrupiadas de nossas mães. E ainda me lembro de sua voz grossa:
- xiii, acabou o carboreto...
depois que riscávamos o último palito.

Nos mudamos para Tupã.
Foram 4 casas nessa cidade.
Na primeira levei a primeira bronca de verdade do meu pai, porque eu estava furando as bolas de sabão do meu irmão, de propósito, e era um campeonato!
Na segunda, ganhei o meu gato amarelo. Eu fiquei doente de saudades do que eu tinha em Osvaldo Cruz e que por nenhum esforço manteve-se na caixa em que tentamos transportá-lo.
Na terceira eu inventei o teatro de joelhos. Punha um lençol no varal, ficava atrás, mostrando apenas do joelho para baixo. Pintava carinhas nos joelhos e inventava uma historinha. Movimentando os músculos as carinhas parecem mesmo falar e fazer caretas. Minha irmã caçula era minha platéia, querendo ou não tinha que participar da brincadeira e... tinha que pagar ingresso!
Na quarta eu tive um pato. Não dá para fazer balanço sem assumir certos delitos. Eu roubei o patinho que escapara da cerca de uma casa e passeava pela calçada enquanto mamãe pata e a ninhada já iam longe no quintal. Minha mãe aceitou a história de que eu havia ganhado de uma vizinha da casa da minha amiga de onde eu acabara de chegar.

Nos mudamos para Presidente Prudente. Um endereço. Quando minha família se mudou para o segundo, onde vive até hoje, eu já havia me mudado para São Paulo.
Nessa casa, em Presidente Prudente, eu passei pela adolescência e por essa informação, não é preciso dizer mais nada.

Em São Paulo foram muitos endereços. Com minha irmã, no Ipiranga, na Vila Mariana e depois no Cambuci.
No Ipiranga ajudei a fundar o Grupo de Teatro Cio da Terra que durou em todos esses endereços.
No segundo a delícia de ir a pé ao cinema, principalmente em dias de chuva para saborear as galochas e a sombrinha vermelha. Ir ao cinema sozinha era um prazer.
Na terceira um hiato em que morei em um endereço em Pirassununga por alguns meses. Se eu já soubesse o que sei hoje nunca teria tomado essa decisão.
E, voltando de Pirassununga, do Cambuci direto para Recife.

Um endereço em Recife. Balé de Olinda, Praia da Boa Viagem, a Veneza brasileira. Bom apenas para ter histórias para contar.

De volta a São Paulo mais um endereço com uma amiga e depois encontrei o meu par.
Mais 5 endereços.
O primeiro era sua casa de solteiro.
O segundo nosso primeiro apto, tão pequeno que não cabia insistir.
O terceiro, Alameda Casa Branca, tomar café na Oscar Freire sábado de manhã e ir de bicicleta até o Ibirapuera.
O quarto, nosso primeiro bebê. Perto do trabalho, ir a pé. Rua da Mata, que de mata tem apenas o nome.
O quinto, estratégico porque tivemos nosso segundo bebê, que também precisava de mamãe por perto e por isso, perto do escritório.

Jundiai. Nossa casa de familia de comercial de margarina.
Quintal, cachorro, cama elástica, casinha de boneca, área verde, pé no chão, aranhas em garrafas pet, casa enfeitada para o Natal.

Já morei em tanta casa que nem me lembro mais... Eu moro comigo mesma onde quer que eu vá, ainda bem que sou boa companhia!

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